Thursday, March 27, 2008

MERCADO CENTRAL – INDIGNAÇÕES, VERSÕES E FATOS

Por Ernande Segismundo

Corria lá o ano de 1984. Semana Santa. Quinta feira santa. Tratores e caçambas iniciaram nas primeiras horas daquela manhã a demolição do que restou do antigo Mercado Central, localizado entre a Praça Getúlio Vargas e o Edifício Rio Madeira, Centro da Cidade.
Um grupo de cidadãos, liderados por mim, Bubu Johnson, poeta Mado, arquiteto Luiz Leite, etc. ficamos colericamente revoltados com a cena e procuramos meios para interromper aquela criminosa demolição. Procurávamos, com muita dificuldade, saber quem estava demolindo aquele prédio e quem havia ordenado tal ação criminosa.
Aos poucos ficamos sabendo que o imóvel havia sido “presenteado” pelo prefeito Sebastião Valladares ao Grupo Tourinho, que ali pretendia construir um prédio denominado Condomínio Edifício Mamoré.
Procuramos então um advogado disposto a patrocinar uma ação popular contra a demolição dos restos do mercado.
Os tratores dos Tourinho começaram a demolição do que restava do Mercado na manhã daquela quinta feira santa, isto para dificultar eventual embargo judicial, posto que naquele dia o judiciário já estava de recesso em face da semana santa.
Mesmo assim, insistimos para que o Dr. Jeová entrasse com a ação naquela mesma quinta feira santa e ele entrou (no Plantão Forense) e fomos então até a casa do Dr. João Batista Vendramini Freury no bairro Agenor Martins de Carvalho (ao lado da Vila dos Médicos), que era o Juiz da Vara de Fazenda Pública e ele examinou a ação e deferiu a liminar que nós pedíamos (para interromper a demolição do prédio) e na mesma pisada, descemos para o centro da cidade e acompanhamos o Oficial de Justiça que expulsou literalmente, por força da decisão liminar e acompanhado de alguns policiais militares, os tratores e caçambas que levavam, pouco a pouco os escombros do velho Mercado.
Naquela época eu nem sonhava em ser advogado. A Tal ação popular tramitou durante quatorze anos. Em 1990 formei em direito na Universidade Católica de Goiás e voltei ao meu velho Porto e, ironicamente, assumi a causa - abandonada após o falecimento do Dr. Jeová - desta feita como autor e também advogado.
Com trancos e barrancos, uma derrota ali, uma vitória acolá, acabamos ganhando a ação. Anulamos a carta de aforamento que o prefeito Sebastião Valladares deu aos Tourinho e revertemos o imóvel ao patrimônio da Municipalidade. Acompanhei até as diligências do oficial de justiça para intimar o Cartório de Registro de Imóveis para reverter o registro do imóvel para a Prefeitura.
Durante a campanha eleitoral de 2004, onde fui um dos coordenadores da campanha do prefeito Roberto Sobrinho, insisti com ele que se ganhássemos a disputa, deveríamos restaurar o tal mercado e fazer ali um centro cultural.
Sobrinho ganhou as eleições e continuei insistindo com ele para fazermos ali um centro cultural com todas as características arquitetônicas do prédio original. Sobrinho topou a parada e hoje as obras estão em andamento.
A polêmica instalada hoje é sobre a demolição de duas partes do prédio original por ocasião das obras que estão sendo ali executadas, que preservamos graças à liminar deferida pelo Dr. Vendramini Freury naquela quinta feira santa de 1984.
Não sou da prefeitura e não faço parte do Governo, apesar de ter muitos amigos ali, inclusive o próprio prefeito. A proposta que eu sempre defendi foi de RESTAURAÇÃO do prédio e ali instalar um centro cultural, mas infelizmente não aconteceu assim e não sei o motivo da demolição daquelas duas partes. Já perguntei para alguns secretários da Prefeitura, mas não obtive qualquer resposta razoável.
Posso dizer que acompanhei a elaboração do projeto do que será o Mercado Cultural junto aos arquitetos da Secretaria Municipal de Planejamento e verifiquei que eles mediram milimetricamente todos os detalhes do prédio original (das partes que restaram), até as carrancas que ali haviam, espessura das paredes, modelos de portas, etc. e tudo isto será reconstruído com moderna tecnologia de construção civil mas com todas as características arquitetônicas originais.
É certo que vários munícipes, intelectuais, poetas e artistas, pessoas naturalmente sensíveis aos anseios históricos e culturais do nosso povo, teceram indignados textos na mídia local contra a recente demolição das últimas duas partes do velho Mercado por ocasião das obras em andamento, defendendo não a reconstrução, mas a restauração do que restou.
Entendo absolutamente legítimas as indignações lançadas na imprensa sobre o assunto e me solidarizo publicamente com tais pessoas e acho muito estranho o silêncio sepulcral da nossa Prefeitura sobre o assunto.
Não entendo como um Governo democrático e popular como o do Prefeito Roberto Sobrinho emudeça diante de tão clamorosa e retumbante indignação civil acerca dessa demolição, sem dar qualquer explicação plausível e razoável sobre o ocorrido.
As pessoas têm o inafastável direito de cobrar do Poder Público explicações sobre os seus atos.
No entanto, a demolição do que restou, se vão reconstruir como literalmente era, para mim é mal menor. O mal maior mesmo foi o incêndio criminoso de 1969 que ceifou metade do mercado e a demolição de 90% da outra metade na semana santa de 1984 e que não comoveu ninguém, exceto alguns loucos do juízo liderados por mim que se insurgiram contra aquele crime.
De qualquer modo, estou feliz com essa história, por saber que hoje a consciência histórica é bem mais barulhenta e vigorosa que em 1984, quando a demolição foi bem maior e criminosa e a "sociedade" assistiu de camarote, complacente e silenciosa por medo dos donos do poder da época.
Pelo menos neste caso, aquele grupo de malucos acabou ganhando a parada e hoje, pelo sim ou pelo não, teremos o que restou do velho mercado RECONSTRUÍDO da forma originalmente concebida para abrigar o Mercado Cultural, onde poderemos fazer e celebrar essa e outras histórias da nossa terra e da nossa gente, degustando uma saborosa cerveja gelada, graças ao Prefeito Roberto Sobrinho.
Na pior das hipóteses a memória histórica será preservada no lugar onde seria criminosamente construído um certo Condomínio Edifício Mamoré.

Ernande Segismundo, advogado portovelhense
fonte: L/O e Abelardo Jorge 9957-6033: "Nós acreditamos em Deus e seus profetas"- We believe in God and his prophets , Creemos en Dios y sus profetas, Noi crediamo in Dio e la sua profeti, Nous croyons en Dieu et en ses prophètes,Wir glauben an Gott und seinen Propheten ,Πιστευουμε στο Θεο και του προφητες, ونحن نؤمن بالله وبلدة الأنبياءابيلاردو خورخي.....Leia mais nos links: http://www.amazoniaviva.zip.net/, http://www.brasiline.zip.net/, http://www.selvaviva.zip.net/, http://www.agloborondonia.blogspot.com/

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